terça-feira, 8 de setembro de 2009

Comparados a cozinheiros e alfaiates

À partir da segunda metade do século XX, foram dados os primeiros passos para o aperfeiçoamento da comunicação no país. Primeiro, em 1947 a Fundação Cásper Líbero trouxe o primeiro curso de Jornalismo ao Brasil. Mais tarde, em 1969, a necessidade de ter formação superior para exercer a profissão teve reconhecimento jurídico. A exigência do diploma afastou a informalidade que era muito presente no mercado de trabalho, melhorando a qualidade da informação levantando os princípios da ética e da democracia inseridas no meio.
O tempo passou e o jornalismo esteve presente na história do Brasil. Desde o período colonial até hoje, a imprensa acompanhou às transformações da sociedade brasileira. Passou de veículo de expressão das classes dominantes para um meio acessível às classes trabalhadoras. O jornalista começou a ser visto como o inimigo ferrenho ou aliado indispensável dos políticos, dos esportistas e das celebridades sociais. Sofreu repressão do governo durante a ditadura, foi censurado e boicotado, mas sempre teve o importante papel de levar informação para o povo. Hoje ele enfrenta uma mudança de caráter trabalhista do meio.
Na quarta-feira, dia 17 de junho de 2009, a sessão que ocorreu no Supremo Tribunal Federal acabou por definir um novo rumo para a comunicação brasileira. Por 8 votos a 1, foi decidido por ministros e relatores que não é mais preciso ter diploma para exercer a profissão de jornalista. Perguntado sobre a razão da decisão, o relator Gilmar Mendes afirmou que o preparo técnico dos jornalistas deve continuar nos moldes de cursos como o de culinária e moda ou costura. Isso mesmo.
Ainda teve aqueles que afirmam que a exigência do diploma bloqueia o acesso de todos ao meio de comunicação de massa e, assim, seria um ato inconstitucional. Parece que os nossos queridos ministros do STF em uma viagem do tempo desembarcaram no século passado, quando, apesar do progresso da comunicação, esta estava na mão daqueles que detinham o poder econômico e político. Hoje, qualquer cidadão que queira dividir sua opinião com a população pode criar um blog, como este aqui, ou mandar artigos para webjornais através da internet.
Mas não quero me aprofundar nisso, já que quero discutir sobre problemas trabalhistas. E questionar: quem vai lucrar com essa decisão? Os sindicatos afirmam que tudo não passa de uma conspiração corporativista, e que os empresários terão mais controle do que antes sobre os funcionários que serão menos remunerados. Os ministros dizem que a população avançará em prol da democracia da informação. Entre uma opinião e outra, certamente quem vai sair perdendo são os espectadores.
Por que? Qualidade de informação. Com a falta do diploma, uma maior massa de trabalhadores sem formação vai entrar no mercado. Esses trabalhadores têm experiência prática no trabalho, mas não tem a formação crítica, ética e teórica da vida acadêmica. Isso repercute em uma mensagem superficial que é lida pela massa diariamente.
Os operários da comunicação estão vendo sua obra se desmoronar. O que antes era sinal de orgulho e profissionalização, agora é só um detalhe: as nossas “técnicas trabalhistas” não são muito mais importantes do que as técnicas de cozinheiros ou alfaiates.
Publicado por Fabiano L. Fernandes, acadêmico de Jornalismo da Universidade do Oeste de Santa catarina

Um comentário:

  1. Fabiano e Marcio!

    Considero o blog uma ferramenta importante para os jornalistas. Espero que vocês encontrem neste espaço uma nova forma de expressar suas idéias.

    Bom trabalho!

    ResponderExcluir